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No ano em que celebra o 70º aniversário de fundação da República Popular da China, o governo chinês consolida uma nova diplomacia, mais ativa e global em seu escopo. A principal iniciativa de política externa e que melhor traduz esse momento chama Cinturão e Rota, forma abreviada para referir-se ao Cinturão Econômico da Rota da Seda e à Rota da Seda Marítima do Século XXI. Trata-se de um ambicioso projeto que conecta a Ásia, o Centro e o Leste europeus e o norte da África.

A Cinturão e Rota difere dos mecanismos de integração econômica que predominaram na América Latina nas últimas décadas do século XX por promover, já de início, a conexão dos países pela infraestrutura, com apoio de mecanismos de financiamento, tais como os recém-criados Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) e o Fundo da Rota da Seda. Esse não foi o caso, por exemplo, do Mercosul, que, fundado em 1991, deu ênfase a um arcabouço jurídico-institucional e a discussões sobre barreiras tarifárias e não-tarifárias. Inclusive, o Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (FOCEM) só surgiu quinze anos depois.

Em janeiro de 2018, por ocasião da II Reunião Ministerial do Fórum China-Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Fórum China-CELAC), realizada no Chile, o presidente chinês Xi Jinping convidou os países latino-americanos a participarem ativamente da Cinturão e Rota. A Declaração Especial de Santiago especificou que a China "considera que os países da América Latina e do Caribe fazem parte da extensão natural da Rota Marítima da Seda e são participantes indispensáveis na cooperação internacional da Cinturão e Rota”.

Afinal, é factível a Cinturão e Rota na América Latina? A China tornou-se o primeiro ou o segundo maior parceiro comercial de vários países da região. Desde 2014, o presidente Xi e demais autoridades chinesas têm visitado os países latino-americanos com uma frequência inédita na história da diplomacia chinesa. Na Reunião de Ministros das Relações Exteriores do Fórum China-CELAC realizada em 2015, o presidente Xi propôs que o comércio entre os dois lados chegue a US$ 500 bilhões nos próximos 10 anos, bem como que o investimento direto chinês na América Latina alcance US$ 250 bilhões. Em entrevista para O Globo, o embaixador da China, Yang Wanming, afirmou que o investimento chinês no Brasil é o que mais cresce, com um total acumulado de quase US$ 70 bilhões. Assim, se o mapa original da Cinturão e Rota está geograficamente distante da América Latina, os investimentos e o comércio com a China são uma realidade muito concreta. Desde esse ponto de vista, pode-se afirmar que estamos integrados à nova Rota da Seda.

No discurso que fez na cerimônia de abertura do Fórum Cinturão e Rota, em 2017, o presidente Xi declarou, respeitando a típica discrição chinesa, que a “Cinturão e Rota não está reinventando a roda, mas, pelo menos, está fazendo-a girar". Em um mundo em que o multilateralismo está sob ameaça, tal iniciativa é muito mais que bem-vinda.

Autores: Evandro Menezes de Carvalho

Data: 

03/05/2019