Pandemia Motiva Ataques Virtuais e Aumento da Xenofobia à Comunidade Asiática no Brasil

NOTÍCIA – Um relatório inédito produzido pela companhia de inteligência de mídia Oros, em parceria com a F451, mostra que postagens de perfis de direita representam 70,44% da atividade no Twitter nos últimos seis meses sobre a China, e a esquerda, apenas 29,56%, o que ajuda a entender o tom altamente crítico e anti-China nas discussões no Brasil sobre o País do Meio desde o início da pandemia. Segundo Daniel Guinezi, sócio-fundador da Oros, "o tom da conversa no Twitter tem sido guiado principalmente pela conspiração. São acusações de que o vírus é chinês, que foi feito em laboratório e que apontam a China como o grande inimigo do mundo". Para ele, “a articulação da direita durante a pandemia tornou a China o grande inimigo, fruto de muitas menções negativas”. A piora na visão dos brasileiros sobre a China em ambiente virtual também fez aumentar a xenofobia à comunidade asiática, sobretudo chinesa. Desde o ano passado, o Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) mantém uma central de denúncias de racismo contra chineses. O objetivo é centralizar informações sobre os crimes, reunindo dados e fazendo uma ponte com autoridades brasileiras para ajudar nas investigações. Já são mais de 97 denúncias recebidas desde março de 2020. Fonte: Folha de São Paulo.

 

COMENTÁRIO – Para o presidente do Ibrachina, Thomas Law, os ataques estão ligados a uma questão estrutural na dinâmica do racismo no Brasil e foram encorajados por autoridades. Para ele, "o discurso de pessoas influentes e a propagação de fake news levaram à intensificação desses ataques. Quando uma pessoa em posição de poder tem uma atitude, outras pessoas sentem-se legitimadas para agir da mesma forma. O preconceito tem origem no desconhecimento do que é diferente, é julgar sem conhecer. Do preconceito à discriminação e ao racismo é um passo". Co-fundadora e professora da escola OiChina Mandarim e seguida por mais de 840 mil pessoas no TikTok, Yili Wang relata que, por ser "professora de chinês, sempre fui cercada de pessoas que gostam e querem conhecer e aprender sobre o nosso idioma e cultura. Mas na pandemia descobri que, apesar de terem se passado mais de dez anos da minha chegada ao Brasil, o desconhecimento sobre o país não só aumentou, mas piorou e se transformou em preconceito e ódio". Ela conta que foi chamada na internet de “vírus”, “lixo”, “comedora de morcego, rato e cachorro” e “agente do governo chinês”, ataques que a deixaram com medo de sair de casa e preocupada com a segurança da família, mas que, ao mesmo tempo, a fizeram concluir que sua "missão se tornou mais importante que nunca: disseminar uma China mais real e tentar mudar a visão limitada e racista sobre o meu país". Para o coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da FGV Direito Rio, Evandro Menezes de Carvalho, as autoridades precisam de agir para coibir os casos de xenofobia, lembrando que "o racismo é crime inafiançável e imprescritível. O crime de injúria racial pode levar o racista a ser condenado à pena de reclusão de um a três anos, mais multa. A nossa Constituição Federal tem um preceito civilizatório importante que dispõe que um dos objetivos fundamentais do nosso país é promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça. Infelizmente, temos ainda um longo caminho a percorrer até alcançarmos uma sociedade mais inclusiva e respeitadora das diferenças. Afinal, aqui no Brasil, não são só chineses que sofrem discriminação". Fonte: Idem.