China Testa Limites do Capitalismo em Busca da "Prosperidade Comum"
NOTÍCIA – A China está matando suas galinhas dos ovos de ouro? Essa tem sido a reação de muitos diante de um vendaval regulatório que se abateu sobre vários setores da economia chinesa a partir de julho. Empresas do país, especialmente de tecnologia, perderam mais de US$ 1 trilhão em valor de mercado, em função, sobretudo, das novas políticas. O que levaria Pequim a, digamos, atirar no próprio pé? A puxar o tapete de empresas até agora tratadas como queridinhas nacionais? Para muitos, a resposta parece fácil: o Partido Comunista quer mais controle sobre a economia, quer rédeas mais curtas especialmente para o setor de tecnologia. Segundo Tatiana Prazeres, a explicação não é incorreta, mas é certamente incompleta. Para cada intervenção regulatória há uma lógica –com a qual pode-se ou não concordar, claro. Com a nova filosofia, a China testa os limites do capitalismo. As autoridades parecem à vontade para sacrificar os interesses das empresas em troca de outros objetivos estratégicos —inclusive demandas da sociedade. Uma vítima recente da regulação chinesa foi a indústria de ensino extracurricular, que vinha em ritmo de expansão desenfreada. Sem limites, a indústria distorce o sistema educacional a favor de quem pode pagar, prejudicando a mobilidade social e alimentando a sensação de injustiça. Além disso, os custos altos de educação jogam contra o interesse do governo de que os chineses tenham mais filhos. Com as regras recém-adotadas, as empresas que não quebraram, minguaram. A última novidade chama-se “prosperidade comum”. Com o conceito, o governo, preocupado com a concentração de riqueza, sinaliza que algo virá, como mais impostos sobre fortunas e propriedade. Fonte: Folha de São Paulo.
COMENTÁRIO – Um dia depois de a expressão ser incorporada ao léxico dos mandarins,a gigante de tecnologia Tencent anunciou um fundo de US$ 7,7 bilhões para projetos de prosperidade comum. Temendo a fúria regulatória do governo, empresas apressam-se para causar boa impressão. Responsabilidade social corporativa com características chinesas. Em grande medida, os problemas da China são experimentados mundo afora. Os nomes das empresas mudam, mas temas como big techs grandes demais e crescimento da desigualdade preocupam em muitos países. Pequim, no entanto, tem mais margem de ação e parece disposta a agir. Fonte: Idem.